Olá, queridos leitores amigos. Saudações!
Estou voltando com sites e finalmente regressando também com meu projeto de Blog.
Meu site está todo meio capenga, em construção, em especial porque me tiraram do amável agiota Wix, para tentar trabalhar com o… Wordpress. Reticências, pois xingamentos seriam grosseiros demais à ferramenta que me permite compartilhar essas palavras. Porém, ainda inconformada com a dificuldade de cortar uma imagem.
Fora as problemáticas, estou muito feliz com esse retorno!
Criei essa página não só com intuito de formalidades artísticas, mas em especial numa tentativa de fuga do labirinto das redes.
Eu, sinceramente, acredito na Rede. A grande internet e suas possibilidades infinitas. Mas me desespera os formatos com os quais nos acostumamos e os estímulos negativos que recebemos e reproduzimos infinitamente.
Conheço tantos usuários rebeldes de Instagram! Grandes críticos das normas ABNT sociais, seres inconformados com as mais diversas ruindades do capitalismo inconsciente, porém, entretanto, todavia, muito adaptados, usuários de Instagram (incluso seus pais, filhos, primos e inimigos chineses).
Me impressiona como aceitamos tão silenciosamente e "instagramavelmente", o uso hegemônico de redes que passaram a articular massivamente comportamentos sociais – como interagimos com nossos amigos, conhecidos, familiares e nós mesmos – em suas bases manipulativas, tendenciosas e danosas.
Me pergunto se aceitamos tão facilmente esses formatos de comunicação pelo aspecto egocêntrico e narcísico da coisa – afinal, elas ferem, mas também inflam o ego que é uma beleza.
Outro aspecto que me prende muito nos impulsos de saída das redes é a sensação de exclusão e não-participação de círculos sociais; seja em grupos de amigos, familiares ou contatos de trabalho.
Anteriormente às redes, obviamente não podíamos manter contato com os mais diversos círculos de maneira constante. Pela escassez de tempo e recursos tecnológicos, era necessário escolher alguns contatos mais significativos para investir tempo. E o restante? Talvez brotasse novamente a proximidade caso esbarrasse com seu amigo das antigas na esquina.
Porém, agora, observamos em tempo real, durante boa parte da nossa vigília diária, a vida das mais diversas pessoas (sim, até mesmo as aleatórias que conhecemos rapidinho num momento qualquer). Se refletirmos por um breve período, para mim é evidente, como todo esse turbilhão não é overwhelming? – perdão pelo "portuglês", mas tá aí, pesquisei um bocado e não achei tradução direta.
Tradução própria de overwhelming: se sentir esmagado, confuso e desnorteado com o montante cavalar de informações, emoções, sentimentos que chegam, muitas vezes, de maneira súbita – não há intervalo, tempo, para absorção. Talvez uma boa imagem seja um copo transbordante? Enchido mais rápido do que bebido?
Talvez essa seja minha palavra favorita para descrever a vida pós-moderna. Overwhelming. Uma onda enorme, gigante, pesada e densa de estímulos.
Seja a vida das pessoas que conhece, notícias ao redor do mundo, memes, frases de auto ajuda, filosofias de vida salvadoras, músicos e artistas – tantos que você já nem consegue listar nomes! –, estilos, conceitos, etc, etc. Seja lá o que for. Agora temos muito. De tudo!
Lembro até hoje da minha aula de Teorias da Comunicação na Universidade de Brasília com Professor Martino sobre "Isolamento do Indivíduo". Gravei com tanta força a teoria na época que sintetizei em dois parágrafos a resenha explicativa. Professor Martino queria me dar zero, porque achou pequeno, fiz ele reler indignada e quando terminou: "É… é isso mesmo.", pois vou colar aqui para vocês.
O Isolamento do Indivíduo
Na sociedade tradicional, o passado ditaria como os membros sociais deveriam se portar a partir das tradições, de modo que a sabedoria antiga seria a melhor e única forma de conhecer e lidar com o mundo. Posto isso, os integrantes daquele meio não teriam a possibilidade de moldar suas vidas, mas, somente acatar aos conhecimentos pré-estabelecidos, hábito que faria com que a sociedade tradicional recebesse novidades com bastante estranheza, o novo equipara-se ao ruim. Dessa forma, existiria um laço invisível de cultura, hábitos e visão de mundo (compostos pela tradição) que uniria aqueles elementos, fazendo da comunidade um único indivíduo e seu objetivo o bem comum.
Já na sociedade complexa, a partir da consolidação da ciência, mobilidade social e industrialização, a ideia de tradição perde-se em meio a um novo mundo, agora, adepto à novidades. Destarte, o membro social do meio tradicional tornaria-se, de fato, um indivíduo na sociedade complexa que percebe-se como único, portanto, possui inúmeras possibilidades de comportamento. Sendo assim, o “novo" encarna como fundamental, sinônimo de desenvolvimento, e o passado metamorfoseia-se em desconsiderável numa realidade que valoriza o presente. Dessa forma, a partir do fim do tradicionalismo, comunidade, que servia como laço de união entre os integrantes da sociedade, todos por um bem comum, e oferecia parâmetros pré-estabelecidos entre “bom” e “ruim”, o indivíduo complexo vê-se isolado do corpo social e vulnerável aos meios de comunicação.
Da minha pequena resenha sobre o "isolamento do indivíduo" na sociedade complexa, conceito construído em tempos de mídia massiva em absoluto (televisão, cinema e propaganda), reflito sobre o quanto esse processo de isolamento e vulnerabilidade segue, não só no controle manipulador das redes sobre nosso tempo e atenção, mas também na confusão de excesso de informações e, é claro, na auto percepção exacerbada provocada pelas redes sociais.
Neste tópico dou dois exemplos, ambos advindos de conversas interessantes com amigos e familiares.
O primeiro fala sobre Percepção de Risco versus Risco Real.
Algumas matérias legais que comentam a temática: Afraid? Of What?: IV. Risk Perception vs. Actual Risk e How the news changes the way we think and behave). As matérias que trouxe estão todas em inglês! Para quem nunca usou, os navegadores hoje em dia tem excelentes opções de tradução disponíveis, uso toda hora para sobreviver no Japão kk.
Na conversa com meu amigo ele comentava sobre uma entrevista que assistiu sobre um grupo de norte-americanos que relataram que, quando crianças, podiam andar livremente pela cidade sem preocupação dos pais, mas que, hoje em dia, não deixam seus filhos brincarem sozinhos nem mesmo na rua em frente às suas casas. No episódio, os pesquisadores traziam dados de que comparativamente, os Estados Unidos, em especial as regiões abordadas, nunca foram tão seguras na história americana quanto nos dias de hoje — porém, diferente dos tempos "antigos", agora acessamos a todo momento histórias e notícias (muitas vezes hediondas) vindas do mundo inteiro. Que provocam uma sensação de medo, insegurança e pânico em muitos dos usuários que as consomem.
O segundo exemplo veio de um papo com uma pessoa que muito admiro. Ela me contou de um artigo britânico que analisava o que acontecia com o cérebro de uma mulher ao consumir uma revista (feita para o público feminino) e a constatação foi de que, mesmo as que diziam não se sentirem afetadas, tiveram áreas cerebrais ligadas à depressão e ansiedade acesas durante o experimento.
Algumas conteúdos sobre: Bradley University: What does the research say? e (PDF) Predictors of Media Effects on Body Dissatisfaction in European American Women.
Vários desses estudos realizados nessa mesma temática são antigos! Vi alguns de 2007. Imaginem esse mesmo cenário em 2024. Era dos influenciadores, sub-celebridades e manipulação de imagem amplamente distribuída!
Eu fui passear um dia desses num local turístico aqui perto de Tóquio. O dia estava chuvoso, frio e com muito vento. A paisagem estava longe de estar linda, inclusive cheguei lá e tinha uma fila enorme de pessoas para tirar fotos no "Torii" ⛩️ famoso! Tava era uma grande muvuca de frio, vento e turistas. Só para registrar, levantei o celular do meu marido para bater uma foto do monumento e…! Impressionante. O lugar ficou lindo, um balanço de branco que meus olhos não conseguiram fazer de jeito nenhum! Uma grande foto "instagramável".
E eu lembro de olhar aquilo e sentir vazio, a sensação de um mundo de enfeites, belas embalagens, lindos adornos, mas falta de alma, sabor, cheiro, memória e verdade.
Lindo e sem gosto, sentimento.
A experiência não condiz mais com a memória digital, arquitetada nessa estética do liso, belo e sem defeitos.
Queria encerrar essa publicação com um tom mais alegre, talvez com os prós das redes? Mas só para criticar um pouco essa positividade constante vou deixar por isso mesmo.
Tem muito o que discutir ainda! Depois falamos mais.
Abração [e vão caminhar em vez de ficar no celular].
Obs.: Entre a escrita e publicação desse texto minha relação com Wordpress entrou em crise profunda! A separação foi unilateral... estou de volta com o Wix e o site bem menos capenga. Do que adianta um monstro de ferramenta se nem cabe nas mãozinhas kkkk. Como diz minha querida amiga Clara, Wim Wenders e aprendenders.
Obs. 2: Adição pré-publicação. Para conversas futuras, pois não quero deixar o texto enfadonho, é claro que há muitos contornos do modelo de comportamento que geraram as redes multimilionárias. Nesse aspecto me pergunto sempre se já não estamos urgindo por novas redes (?), outros formatos de comunicação, socialização e digestão de conteúdo; plataformas que valorizem o que nos agrega em vez do que nos tira. Como serão essas redes?
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